segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

De colonia a cidade.

Os 125.000 habitantes da cidade de Punta Arenas, sendo 50% descendentes de imigrantes europeus, estão celebrando os 164 anos da sua fundacao, que foi 18 de dezembro de 1848.

Desde a sua fundacao muitos europeus chegaram a cidade atraídos pela politica de colonizacao por estrangeiros, que decretou Punta Arenas como "porto livre". Esta medida marcou o inicio do crescimento econômico da região pois os colonos estrangeiros fundaram todo tipo de estabelecimentos comerciais. Ademas, o surgimento da navegacao a vapor contribuiu muito para o aumento do tráfico náutico por esta via, o que acrescentou o interesse do governo central do Chile em investir na pequena colonia.

Podemos relatar o progresso econômico da colonia recordando 3 notáveis personagens: José Nogueira, Elias Braun e José Menendez.

Em 1874, Elias Braun, de Letônia, que naquele tempo era governada por Rússia, chega a Punta Arenas com sua esposa e seus quatro filhos, fugindo da perseguicao a populacao de origem judia. O jovem matrimonio aceita o oferecimento do governo chileno para povoar a colonia de Punta Arenas e recebem um pequeno sitio, material para construcao, animais e alimentos para seis meses. Alguns anos mais tarde, a família Braun já controlava mais de 1.300.000 hectares de terreno tanto na Patagônia chilena como na argentina, suas fazendas produziam anualmente milhões de toneladas de la, 700.000 kilos de couro, 2.500,000 kilos de carne.

Em Punta Arenas, Elias Braun encontrou com José Nogueira, marinheiro português, que havia chegado a colonia em 1886 e estava dedicado a caça de lobos de pele fina, negócio que lhe brindou uma grande fortuna a qual ele investiu em uma variedade de outros negócios em toda a Patagônia.

Paralelamente, em 1876, José Menendez, espanhol, com sua esposa e seus dois filhos, chegam a Punta Arenas depois de adquirir o negócio de comercializacao de peles de guanacos e plumas de avestruzes que pertencia a um comerciante argentino. Alguns anos mais tarde, José Menendez já era o homem mais influente de toda a Patagônia, de fato, ficou conhecido como "O Rei da Patagônia".

Nenhum destes 3 homens contavam com um capital inicial importante, mas aproveitaram ao máximo todas as oportunidades de negócios que surgiram. Seus negócios e suas famílias se entrelaçaram. Nogueira, viúvo, se casou com a filha de Elias Braun, a jovem Sara. Maurício Braun se casou com a filha de José Menendez, Josefina. Unindo assim as 3 grandes fortunas da região da Patagônia.

A poucos anos de casados, José Nogueira faleceu de tuberculosis, sem descendencia, deixou para Sara, que tinha 25 anos de idade, toda a sua fortuna, a qual ela soube administrar muito bem. Em 1910 ela já administrava 2 milhões de hectares de terreno próprio ou em concessão do governo e algo de 1 milhão de cabeças de gado, também administrava empresas no âmbito naval, comercial e industrial, um poderio impressionante para uma jovem mulher da época. Existem opiniões contraditarias sobre sua personalidade, alguns dizem que era de caráter aberto e generoso, as vezes excêntrica. Outros que era cruel com seus empregados e levava uma vida solitária. Mas o certo é que foi, certamente, a mulher mais influente de toda a Patagônia chilena e argentina.

Enquanto isto sucedia, Punta Arenas deixava de ser uma colonia pequena de casas de madeira para transformar-se em uma elegante cidade da belle-epoque com petit-hotéis e imigrantes triunfantes educando seus filhos que, eventualmente se tornaram destacadas personalidades.

Em 1895, Sara Braun finaliza a construcao de seu palácio que havia sido iniciada por Nogueira 2 anos antes de seu falecimento. A mansão foi desenhada pelo arquiteto francês Numa Meyer e construída em um sitio privilegiado, no mesmo coração da cidade, a qual consta de uma fachada elegante, um jardim de inverno de estrutura metálica onde ainda é cultivada uma folhagem centenária. Todos os materiais de construcao, os móveis e objetos de decoracao e arte e os detalhes do estilo da mansão foram comprados na Franca e Inglaterra e transportados a Punta Arenas.

Em 1955, com 93 anos de idade, Sara Braun faleceu sem deixar descendentes diretos, assim que toda sua fortuna passou ao resto da família e os sobrinhos herdaram a mansão mas a venderam a um grupo de residentes interessados em preservar a história, e com esta finalidade fundaram o "Club de la Union".
No dia 4 de dezembro de 1981 o Palácio Sara Braun foi declarado Monumento Nacional.

Hoje o palácio é uma mostra da belle epoque na Região de Magalhães para todos que o visitam. Ali também funciona o exclusivo Hotel José Nogueira com 22 habitacoes que mantem viva a arquitetura do século XIX, um elegante bar que conserva grande parte da mobilia da residencia, Bar Shackleton e um pub subterrâneo, La Taberna, que tem sido ponto de encontro de residentes e turistas. Ademas, o jardim de inverno foi transformado em um restaurante com uma atmosfera singular.

 clubunionpuntaarenas.cl/listado_socios.htm

Quando Sara Braun partiu da sua terra natal, Talsen, aos 12 anos de idade, seguramente não imaginava que seria dona de tamanha fortuna sendo tao jovem. Não há dúvida que ela é parte da história desta cidade e, como tal, foi também uma grande benefactora cooperando com muitas obras de caráter social. Uma das suas obras mais destacadas é a Fundacao Sara Braun que dá apoio econômico a estudantes de carreiras tecnico-universitárias que apresentam um rendimento escolar excelente. Sua fundacao beneficia  anualmente estudantes de todas partes do Chile.

Também foram muitas as doacoes que fez a cidade, como o edifício onde funciona a Cruz Vermelha de Punta Arenas e o pórtico central do cemitério municipal o qual leva seu nome, é a obra mais popularmente conhecida. Se conta que uma das clausuras do famoso pórtico determina que a benefactora, Sara Braun, seria a única pessoa que, depois de falecida, passaria pela porta principal do cemitério. De fato, esta porta há sido completamente fechada depois do seu funeral e a entrada ao cemitério se realiza por entradas laterais.
O mausóleo de Sara Braun ocupa uma grande extensão dentro da ala sul do cemitério e, tal como ela queria, uma recordacao da sua terra natal, Rússia.



Atracão turística: Palácio Sara Braun, na Plaza Muñoz Gamero.

Entrada da mansão 

Entrada do pub, La Taberna


Restaurante-Hotel José Nogueira


Entrada do Hotel José Nogueira





Atracão turística: Mausóleo da Sra. Sara Braun: Cemitério Municipal Sara Braun (detalhes no próximo blog: Cemitério ou atracão turística?)





Entrada principal do Cemitério Municipal Sara Braun


Recomendacao: livro: Palácio Sara Braun: Icono Patrimonial de Punta Arenas.
                       Autor: Mateo Martinic & Dante Baeriswyl.


Esta publicacao reúne a história, a arquitetura, a decoracao e a pinacoteca da mansão de Sara Braun, ricamente ilustrado com fotografias da época e da atualidade.

Mais sobre as famílias Braun- Menendez: fundacionbraun.org/pag/braun.htm




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