segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A colonia em Punta Arenas

Durante os primeiros anos desde sua fundacao, 18 de dezembro de 1848, a colonia de Punta Arenas foi uma colonia de tipo penal. Os "indesejados" da populacao chilena povoaram a nascente colonia: militares rebeldes, presos políticos, delinquentes, ladroes, bígamos, desertores do exército. A idade deles variava entre os 20 e 40 anos e a maioria deles era de caráter insolente e rebelde.

Nas primeiras décadas do século XIX, Santiago de Chile enfrentava uma super populacao carcerária por causa das revoltas e acontecimentos políticos gerados pelas guerras da independência; ao mesmo tempo a nova colonia, localizada numa área bastante afastada e inóspita, necessitava ser povoada e necessitava mão de obra barata para levantar uma cidade. 
Por estas e outras razoes o presidente da republica, Manuel Bulnes, tomou a medida de transformar a colonia de Punta Arenas em uma colonia penal, mas com o propósito de transformar os réus em colonos. Uma cidade com condenados, não de condenados.

De todos modos, os réus-colonos construíram as primeiras ruas da colonia, cortaram a abundante vegetacao que rodeava a área a ser construída, construíram as primeiras casas, o edifício do governador, a escola, a igreja, o porto, o pequeno hospital. Fizeram grandes avanços apesar de que não tinham o espírito de pioneiro, estavam ali cumprindo condenas.

Para o ano 1951, ano que marcou a história da colonia, a populacao era de uns 500 habitantes, entre autoridades designadas como o governador, um corpo de polícias, um destacamento do exército; também algumas famílias pioneiras e os réus que viviam livremente dentro dos limites estabelecidos da colonia.
Para então a colonia estava baixo a administracao do governador Benjamin Muñoz Gamero, o quarto governador da colonia.

Neste mesmo ano o réu, tenente de artilharia, José Miguel Cambiaso, de 26 anos, foi enviado a colonia para cumprir uma condena de assassinato. Era arrogante e insolente mas conseguiu ganhar a simpatia dos demais condenados, os quais mais tarde foram liderados por ele em um sangrento motim em contra das autoridades da colonia, o qual estalou no dia 21 de Novembro deste mesmo ano.

Cambiaso, vestido com um uniforme militar e com espírito de superioridade dava ordens ameaçando de fuzilamento a qualquer que não lhe obedecera prontamente. Seu plano consistia em apoderar-se da colonia e proclamar-se seu regente. Sendo assim, o governador Muñoz Gamero teve que fugir e esconder-se, lamentavelmente foi encontrado pelos homens de Cambiaso e fuzilado. Cambiaso também matou o capelão, vários indígenas que perambulavam pela colonia e qualquer que se atreveu a opor-se a ele. Em uma desenfreada violência queimou tudo a seu passo.

Também tomou como refém o capitão da goleta inglesa  Elisa Cornish, John Talbot, e seu jovem acompanhante, Mr Dean, mas ambos foram assassinados mais tarde.
Igualmente tomou a escuna Florida que havia sido contratada pelo governo chileno para transportar 66 réus políticos desde Valparaíso a Punta Arenas. Mais tarde o capitão da embarcacao, Mr Chas H Brown, foi obrigado a transportar Cambiaso em sua fuga para a Argentina, deixando o resto dos amotinados abandonados a sua sorte.
Finalmente, Cambiaso foi capturado e condenado a pena de morte. Foi fuzilado na praça pública de Valparaíso em 1853 frente a umas 50 mil pessoas, posteriormente seu corpo foi esquartejado.

Nota: na atualidade a praça principal da cidade leva o nome do governador Benjamin Muñoz Gamero, em sua homenagem e memória.

Recomendacao: Livro (inglês/espanhol): Insurrection in Magellan, narrative of imprisoment and escape from the chilean convicts.
Capitan Chas H Brown, editado em 1854.

Este livro relata a sequência dos acontecimentos, os horrores e excessos cometidos por Cambiaso, e o papel do autor, capitão Brown, no desenlace deste terrível evento.
A traducao ao espanhol foi publicada pela editorial francisco de Aguirre, Buenos Aires.

www.patlibros.org (elige a versão inglês ou espanhol, click Charles Brown na janela viajeros/travellers)

Depois desta triste experiência, no dia 8 de julho de 1853, o presidente da republica, Manuel Montt, firmou um decreto  no qual estabelecia Punta Arenas como Território de Colonizacao pondo fim ao estado de colonia presidio. Assim, está claro, que já não se enviou mais réus a região.

Poucos anos depois, em 1877, se produziu outro violento motim que, mais uma vez, retardou o progresso econômico da colonia. Desta vez os amotinados foram os soldados do regimento de artilheiros que estavam descontentes com o severo regime disciplinário imposto pelo comandante do regimento durante o mandato do governador Duble Almeida. Também alguns dos réus que ainda estavam cumprindo condenas na colonia se uniram aos rebeldes.

O motim estalou a 1:40 da madrugada do dia 12 de novembro, tomando por surpresa os habitantes da colonia que dormiam naquele momento, a populacao era de quase 1000 habitantes.
Os amotinados assassinaram o comandante Pio Guilardes e seus assistentes, saquearam e queimaram todas as propriedades da colonia, fora particular ou administrativas,  causaram a morte de 52 pessoas, incluindo uma criancinha de poucos meses, cujo pai foi um destacado imigrante espanhol que não se encontrava na colonia neste dia, mas sua esposa foi gravemente ferida na perna e sofreu a amputacao da mesma.

Depois de uma desenfreada urgia os amotinados trataram de fugir para o país vizinho, Argentina. Alguns morreram no caminho e outros foram capturados, 9 foram condenados a pena de morte e 22 a prisão.

Recomendacao: Livro (espanhol): El Motin de los Artilleros, por Armando Braun Menendez, historiador regional. Este livro foi editado em Buenos Aires em 1934.

Desta forma a colonia se converteu em um lugar pouco atrativo; quem iria querer construir algo que mais cedo ou mais tarde seria destruído por rebeldes? Assim, pouco a pouco a colonia entrou em um processo de decadência.

Mas o seguinte presidente da república, José Joaquim Perez, foi quem realmente impulsou o progresso da colonia. O congresso aprovou um fundo extra para a reconstrucao da cidade e se tomou medidas administrativas que resultaram eficazes.
Num curto espaço de tempo se desenvolveu diversas atividades econômicas: agricultura, criacao de ovelhas,   comercializacao da pele de lobo marinho de 2 pelos, lavado de ouro, exploracão de carvão, navegacao, comércio.

Assim imigrantes de diferentes nacionalidades européias começaram a chegar a colonia atraídos pelas ofertas de trabalho e as novas oportunidades que abriam no novo continente.
A febre do ouro arrastou uma massiva onda de imigrantes croatas, espanhois (principalmente de Astúrias e Galícia) e britânicos; também franceses, suizos, italianos e alemães, mas em menor quantidade.

Um fato interessante sobre a populacao atual da Região de Magalhães é que 50% dos seus habitantes são descendentes de europeus, sendo 10% descendentes de croatas, de fato, Chile é o segundo país em número de imigrantes croatas no mundo.

Uma interessante atracão turística é o Museo del Recuerdo, poderia ser traduzido como Museu Memorial.

Em 1968 o historiador regional, Mateo Martinic, Premio Nacional de História, fundou o "Instituto de la Patagônia", o qual foi incorporado a Universidade de Magalhães em 1985. Nos anos 70 começou a habilitar o "Museu del Recuerdo" gracas as doacoes de objetos que pertenceram aos pioneiros.

Assim que uma visita aos pátios do museu nos transporta ao final do século XIX- princípio do XX. Ali encontramos as casas de pioneiros que foram cuidadosamente transportadas e ambientadas com utensílios da época, como uma casa de família com toda a mobiliária, uma padaria, uma mercearia, uma garagem com as luxosas carruagens da época e também os primeiros automóveis, uma relojoaria, sala de telegrafo, dentista, diversas maquinarias agrícolas e ferroviárias.


















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