terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os primeiros habitantes

A historia dos habitantes na área do Estreito de Magalhães começou miles de anos atrás com a chegada de grupos de caçadores que cruzaram o Estreito de Bering para ingressar ao território americano.

Arqueologistas datam as ocupacoes humanas mais antigas na região austral a 12.900 anos atrás, indícios foram encontrados tanto na Província de Ultima Esperança (CL) como na Província de Santa Cruz(AR).
Na Terra do Fogo, descobrimentos no setor de Tres Arroyos mostram ocupacoes de 12.280 a 11.880 anos atrás. Ali viveram grupos de caçadores que conviveram com animais já extintos, como o milodon e o cavalo anão.

Já no seculo XVI, quando a expedicao de Fernão de Magalhães chegou a região que hoje leva o seu nome, havia 4 grupos de aborigenes que viviam harmoniosamente com o meio ambiente e entre si mesmos:

Os Aonikenks, <<gente do sul>>, também conhecidos como Tehuelches, habitavam os territórios compreendidos entre o Rio Santa Cruz e o Estreito de Magalhães. Eram hábeis caçadores e podiam recorrer grandes distancias em busca de guanaco e ñandu (avestruz). Sua populacao seria de uns 4.000 indivíduos.

Os Selk´Nam, <<filhos da terra>>, conhecidos pelos europeus como Onas, habitaram a Ilha Grande Terra do Fogo. Também eram hábeis caçadores, sua principal caça foi o guanaco.Se calcula que sua populacao chegou a 3.600 pessoas.

Os Yamanas, também chamados Yahgashaga, <<montanha-vale-canal>>, o missioneiro inglês Thomas Bridges abreviou a palavra a Yagan, nome com o qual a etnia e mais conhecida. Eram exímios canoeiros,viviam perto das costas passando a maior parte do tempo em suas canoas. Recorriam principalmente o sul do Estreito de Magalhães, Canal Beagle e o Cabo de Hornos. A populacao de Yamanas chegou a mais de 3000 indivíduos.

Os Kaweskar, <<racional de pele e osso>>, também conhecidos como Alacalufes. Igual que os Yagans  eles eram canoeiros, passavam o dia em suas canoas e acampavam nas praias ao anoitecer. Recorriam os canais e fiordos ao ocidente da Patagônia. Thomas Bridges, em 1880, calculou uma populacao de mais de 3000 pessoas.

Com a navegacao europeia atravez do estreito e eventualmente com a colonizacao da região, estes grupos nativos sofreram os cruéis efeitos da codicia humana.

Os territórios que por milênios haviam sido livres territórios de caca dos Onas, foram cercados por fazendeiros ingleses que substituíram sua principal caça, os guanacos, por ovelhas criadas nas fazendas. Muitos Onas foram exterminados baixo a desculpa de roubar ovelhas e outros morreram como consequencia de doenças virales trazidas pelos europeus ou pelo alcoolismo, costume adquirida ao trocar com os europeus peles de lobo marinho por bebidas alcoólicas.

Os tehuelches não tiveram melhor sorte. A contar de 1860 a populacao da colonia Punta Arenas começou a  crescer rapidamente com o desenvolvimento da industria madeireira e a exploracão de ouro. A limitacao das jurisdicoes territoriais entre Chile e Argentina, as concessões territoriais dadas aos europeus para o desenvolvimento da pecuária e o abuso dos novos proprietarios em contra dos Tehuelches fizeram com que eles abandonassem o território chileno, ademais um contagio de viruela reduziu significativamente a populacao aborigene. Os Aonikenkes foram visto pela ultima vez em território chileno ao redor de 1927.

Em 1850, missioneiros anglicanos se estabeleceram na área do Canal Beagle construindo ali um hospital, casas, uma escola e uma igreja para desenvolver atividades educativas e evangelizadoras com o fim de ajudar os Yamanas a adaptar-se as mudanças que estavam sucedendo rapidamente na região e que eram dificieis de ser assimiladas por eles.

Ao principio a missão atraiu muitos indígenas que foram obrigados a viver em chocas, usar vestimentas europeias e trabalhar em oficios que não eram suas costumes. Em 1885 uma epidemia de rubéola, doença completamente desconhecida entre eles, causou um efeito fulminante entre a populacao Yagan. Continuaram vivendo em diferente missões que pouco a pouco debilitaram sua cultura e a capacidade de comunicar em sua própria língua.

No setor da província de Ultima Esperança os novos colonos receberam grandes extensões de terra para iniciar a atividade pecuária o que desembocou em numerosos conflitos com os Kaweskar, que recorriam os canais e fiordos. Os indígenas foram acusados de roubar animais o que custou a vida de muitos deles. De acordo com o estudo de Joseph Emperaire, a populacao  Kaweskar começou a diminuir a medida que os estrangeiros foram instalados em seus territórios. Ademais dos atos de violência a que foram vitimas, também foram introduzidos ao excessivo consumo de álcool e doenças contagiosas como a tuberculosis, venéreas e gripe que deterioraram o estado fisiológico dos aborigens.

Atualmente os descendentes dos Yamanas vivem na Ilha Navarino, Província Antarctica, em uma vila chamada Ukika.
Em 1992, esta comunidade se agrupou para lutar pela defesa dos direitos de seus ancestrais e resgatar sua historia e cultura. Pediram ao Estado e a sociedade chilena reparar os danos que os europeus e chilenos causaram levando sua comunidade quase a extincao.
Em resposta, em 1993, as comunidades Yamanas e Kaweskar foram reconhecidas pela atual Lei Indígena e passaram a receber protecao e apoio do Estado. Ademais, o fisco restituiu a comunidade Yamana as terras da Baia Mejillones onde eles viveram antes de estabelecer-se na Vila Ukika-

Os últimos descendentes dos Kaweskar hoje vivem em Porto Éden, cujo acesso e somente por via marítima, com uma populacao de 250 pessoas.
Em 2008 um dos últimos kaweskar puro morreu, ainda que ele afirmava ser o único, mas investigadores da etnia acreditam que ainda há 3 deles, porem não há nenhuma mulher da raça Kaweskar em idade de procriar, o que quer dizer que a extincao da raca e inevitável.

Em 1881, um grupo de 11 Kaweskar foram sequestrados por um empresario alemão, Karl Hagenbeck, levados a Paris e foram exibidos como canibais no Jardin D´Acclimatation ante o publico francês. Também foram expostos no jardim zoológico em Berlim, e foram levados a Leipzia, Munich, Stuttgart, Nuremberg, Zurich.

Depois de 129 anos deste trágico acontecimento, os esqueletos de Henry, Luse, Grethe, Piskouna e Capitan (nomes dados pelos europeus), foram encontrados no departamento de antropologia da Universidade de Zurich. Com todo o apoio necessário, uma delegacao de 5 descendentes indígenas viajaram a Suiza em busca dos restos de seus antepassados, os quais chegaram a Chile no dia 12 de janeiro de 2010, onde foram levados a Ilha Karukinga, no Seno Almirantazgo, e enterrados dignamente de acordo com a tradicao dos povos canoeiros da zona austral.

Atracão turística relacionada com as etnias: Museu Maggiorino Borgatello: o museu exibe uma colecao etnográfica reunida pelos missioneiros salesianos. Conta com 4 níveis de exibicao na área da cultura, historia, religião, fauna, flora e comercio da Região de Magalhães. Conta também com uma valiosa biblioteca e um extenso material fotográfico e audiovisual sobra as etnias e historia da Patagônia.

Para mais informacao: www.museomaggiorinoborgatello.cl

Recomendacao: Livro: Sombras de Fuego-Patagonia, Carlos Vega Delgado. (Espanhol-Inglês)

















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